Internos do regime semiaberto e estudantes participaram, na manhã de segunda-feira (25), de uma programação voltada à celebração do Dia da Consciência Negra no Conjunto Penal de Itabuna (CPI). O teve palestras do professor Rui Póvoas, da professora Marialda Silveira, além da intervenção cultural de Egnaldo França, do grupo Encantarte, e da banda de percussão Negras Perfumadas.
O professor Rui Póvoas e a professora Marialda Silveira desenvolveram dinâmicas e falas que estimularam o autorreconhecimento de cada um enquanto ser da raça humana, único, com sua personalidade, suas contradições e suas prisões, interiores, biológicas, sociais etc., para além das prisões físicas, que aprisionam o corpo. Com isso, convidou a cada um dos presentes a refletir sobre o porquê de nos presídios e penitenciárias o povo negro formar a maioria da população.
Já o mobilizador cultural Egnaldo França reforçou as falas dos professores a partir das músicas cantadas junto com a plateia e nas intervenções entre uma canção e outra. “Há, como disse o professor Rui Póvoas, muitas prisões à nossa volta. Às vezes, mesmo estando livres, não podemos contemplar uma praça, não podemos ver a lua cheia refletida nas águas do rio Cachoeira, como ele falou. Isso também é dito por Edson Gomes em suas músicas, que passam os anos e elas seguem sempre atuais, infelizmente”.
Egnaldo afirma que não justifica os erros, mas que muitas situações são explicadas por um contexto bem maior, um sistema, que pune indiscriminadamente a uns, ao mesmo tempo que protege a outros. “A gente sabe como o sistema funciona, quem são as pessoas que são presas e aquelas que, mesmo fazendo coisas muitas vezes piores, nunca chegarão perto de um presídio. Mas a nós pouco importa o erro de cada um, importa a pessoa que daqui sairá. Que saia um cidadão, que escolha viver uma nova vida, apesar do olhar muitas vezes discriminador da sociedade para os egressos”.
Um dos momentos mais marcantes foi quando a fundadora da banda Negras Perfumadas, Jaqueline Paula dos Santos, foi chamada a cantar uma música dedicada às mulheres e, emocionada, desabou em lágrimas, mas não deixou de dar seu recado. “Tentei, desde o começo, não chorar. Alguém até pediu que eu não chorasse, mas a mensagem que eu quis passar para essas mulheres toca muito em mim”.